segunda-feira, outubro 01, 2007
Food for thought
Desculpem o título em inglês, mas não pude resistir (confesso que a imagem também ajudou!). Mais do que uma expressão, vejo-a como uma asserção universal (daí intraduzível) que faz parte dos paradigmas deste princípio de século. É que, justamente, se a reflexão tem andado tão esfomeada é porque o vazio de ideias da generalidade das nossas cabecinhas pensadoras (sobretudo dos profissionais da política) começa a ser alarmante.Vamos lá pois ao “food for thought”:
Para abrir o apetite, começo por este comentário conciso e sem malícia: muda o cabecilha no pomar das laranjeiras e a Somague nem chus nem mus?...
Façam uma pausa... e voltem a ler a linha precedente.
Agora, partindo deste aperitivo, convido-vos a degustar a vivacidade deste texto de Vítor Dias, que escreve a propósito (ou a pretexto) da entrevista ao Público do presidente da Entidade de Contas e Financiamento Políticos.
[...]
“Chegou-se a este ponto, em primeiro lugar, porque PS e PSD (eles lá saberão o que lhes rói a consciência) acabaram sempre por colaborar na mistificação que tende a apresentar «os partidos» como o maior antro da corrupção nacional; em segundo lugar, porque em vez de limitarem o absurdo e chocante despesismo eleitoral, trabalharam valentemente para, através da nova lei, ampliar os subsídios do Estado aos partidos (o que rendeu ao PS e ao PSD mais um milhão de contos anual para cada um); em terceiro lugar, como são partidos em que cerca de 80% das suas receitas vêm do Estado, criaram mecanismos legais através dos quais os partidos praticamente deixam de ser associações voluntárias de cidadãos para passarem a ser peças do aparelho de Estado ou repartições estatais.
E olhem que não exagero porque já se viu professores catedráticos de Direito a defenderem o financiamento exclusivamente público dos partidos o que significaria que receberiam segundo o seu número de votos e, tal como os ministérios por força do Orçamento de Estado, nem mais um tostão poderiam gastar, o que significaria uma brutal e intolerável limitação à liberdade de actuação dos partidos.”
Como dizia o outro: São aqueles que defendem o “Menos Estado” que estão a favor da lei que diz que o Estado deve financiar os partidos. Ou seja, “Menos Estado”, mas com o Estado a financiá-los.
:: enviado por JAM :: 10/01/2007 11:58:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
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O desenho parece evoluir para um não pequeno colete de forças em que um Estado omnisciente e omnipotente moraliza toda a vida pública e mantém reféns e dependentes os últimos redutos de autonomia.De joshua, em outubro 01, 2007 8:00 da tarde