BRITEIROS: A questão ucraniana <$BlogRSDUrl$>








domingo, setembro 30, 2007

A questão ucraniana

Vai hoje às urnas um dos mais vastos países do continente europeu e sem dúvida também um dos mais complicados. A bem dizer, a Ucrânia não é um país mas sim dois países em um. Uma Ucrânia ocidental com os olhos voltados para Oeste, que fala ucraniano e onde predomina a igreja “uniate”, ligada a Roma, e a Ucrânia oriental, russófona, ortodoxa, ligada ao patriarcado de Moscovo e que não pretende cortar as relações seculares que tem com a Rússia.
Como não podia deixar de ser, o xadrez político reflecte essa divisão. Por um lado, o partido pró-russo de Viktor Yanukovitch e, por outro lado, o campo pró-ocidental, o da revolução laranja de 2004, que já foi unido, mas que está hoje dividido entre os partidários de Viktor Yuchenko e os da ex-primeira ministra, Yulia Timochenko. As sondagens não prognosticam para nenhum dos três uma maioria suficiente para governar sozinho. Os irmãos inimigos da revolução laranja já prometeram unir-se para formar governo mas tudo dependerá, como é evidente, dos resultados. A confusão é tanto maior que os verdadeiros mestres do jogo são os grandes patrões dos conglomerados privados, financiadores das campanhas e reis da corrupção.
Praticamente todos os ucranianos, tanto do Oeste como do Leste, desejam juntar-se à União Europeia. Todos sabem que, tão depressa, não têm quaisquer hipóteses de chegar a membros e que a União nem de longe está pronta para integrar um país tão grande e desconjuntado por tão grandes problemas. Mas todos estão dispostos a percorrer o caminho por etapas, de acordo em acordo, e a contentar-se, mesmo que por muitas décadas, com uma parceria privilegiada que não chegaria à adesão. Todos o desejam porque a Ucrânia é sem dúvida um país europeu e os seus interesses económicos estão na Europa.
Em contrapartida, os ucranianos estão fortemente divididos pela questão da entrada na NATO. A Ucrânia ocidental deseja-a por desconfiar da Rússia. A Ucrânia oriental recusa-a porque não quer romper com a Rússia que, por sua vez, também não quer ver a Aliança Atlântica do outro lado da sua fronteira.
A Ucrânia poderia facilmente encontrar um consenso, se a UE lhe estendesse a mão, opondo-se ao mesmo tempo a que ela entrasse para a NATO, para o seio da qual os Estados Unidos a empurram. A Ucrânia poderia então tornar-se uma ponte entre as duas Europas, um factor de estabilidade em vez de instabilidade.
O problema é que a União Europeia ainda não tem política estrangeira, ainda não é um actor da cena internacional, nem sequer da europeia. A União Europeia não sabe decidir e corre o risco de o vir a pagar bem caro nas suas próprias fronteiras.

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:: enviado por JAM :: 9/30/2007 12:22:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
  • O que tem de ser tem muita força. O passado mostra que a ligação à Rússia nem sempre foi um mar de mel, em muitos casos trouxe alguma maldição no soterramento das especificidades linguísticas e identitárias ucranianas.

    Aguardemos.

    De Blogger joshua, em setembro 30, 2007 4:30 da tarde  
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