sexta-feira, janeiro 21, 2005
134 anos atrás era assim
“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência, Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e
na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
[...] Não é uma existência, é uma expiação.”
Eça de Queiroz – As Farpas (Maio de 1871)
Passaram cento e trinta e quatro anos desde que este texto foi escrito. Será possível !?
na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
[...] Não é uma existência, é uma expiação.”
Eça de Queiroz – As Farpas (Maio de 1871)
Passaram cento e trinta e quatro anos desde que este texto foi escrito. Será possível !?
:: enviado por U18 Team :: 1/21/2005 10:10:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
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Muito bem apontado.De Henrique, em janeiro 22, 2005 4:54 da manhã
Realmente, é por esta e por outras análises semelhantes, tanto no tom crítico como na antiguidade, que tenho a total convicção que não há mudança possível. O problema é grave, tanto mais grave porque já vem de longe.
Será genético? Ou erro memético da nossa cultura?