domingo, abril 03, 2005
Povo
E agora deixemos o Papa. Não posso aceitar que, devido ao estatuto que tinha, a sua morte tenha mais peso do que a morte dos cidadãos anónimos aniquilados todos os dias pelas guerras, pela fome, pela doença, pela velhice, e, pior do que isso, em circunstâncias com as quais J. P. II não teve de se confrontar: a violência armada, a exploração e o abandono, os maus tratos, a carência dos bens e/ou dos direitos mais elementares que tornam digna a vida humana.Àcerca desses que pura e simplesmente não têm estatuto, segue um extracto de um poema que não sei bem se é do Guerra Junqueiro ou do Gommes Leal, mas lá vai:
Povo! No pano cru rasgado das camisas
Uma bandeira penso que transluz!
Com ela sofres, bebes e agonizas:
Listrões de vinho lançam-lhe divisas
E os suspensórios traçam-lhe uma cruz.
Será uma poesia datada, demodé, demagógica até, mas não é bonita?
:: enviado por Manolo :: 4/03/2005 12:07:00 da manhã :: início ::