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sexta-feira, outubro 13, 2006

Orhan Pamuk e as leis sobre o negacionismo

Que há de comum entre o novo prémio Nobel de literatura e o projecto de lei aprovado ontem pelo parlamento francês?
O prémio Nobel de literatura, o romancista turco Orhan Pamuk, tem sido alvo dos nacionalistas radicais turcos, a pretexto das chamadas leis de insulto e difamação, pelas suas declarações sobre dois temas considerados tabus na Turquia: os problemas dos arménios e dos curdos.
É precisamente aí que reside a semelhança com o projecto de lei ― apresentado pelo partido socialista ― ontem discutido e aprovado pelo parlamento francês, que pretende reprimir com um ano de prisão e 45 mil euros de multa a negação do genocídio do povo arménio. O objectivo é tornar punível qualquer intento ligado ao não reconhecimento da deportação e dos massacres infligidos aos arménios da Turquia, no início da Primeira Guerra Mundial.
Não é a primeira vez que os deputados franceses metem o nariz onde não são chamados e resolvem fazer da sua leitura da História a única possível ― a chamada História oficial. Os historiadores replicam que isso é próprio dos regimes totalitários e que decisões dessas podem produzir deslizes como os da lei sobre o papel positivo da colonização e a chamada lei Gayssot, uma lei que, a ser aplicada sobre Robert Redeker, bastaria para o transformar de vítima em culpado.
O projecto de lei ontem aprovado insere-se numa pugna mais vasta, entre a França e a Turquia, que tem como pano de fundo a adesão desta à UE. Com esta nova investida, que conta com forte oposição da Comissão de Bruxelas, a França desfere um “duro golpe” no relacionamento entre os dois países, “em resultado de falsas e irresponsáveis afirmações de políticos, que não vêem as consequências das suas acções”.
Voltando a Orhan Pamuk, foi ele mesmo quem, numa fria e soalheira manhã de Dezembro de 2002, no seu estúdio do bairro de Taksin em Istambul, soltou a frase sábia: “A discussão sobre se os turcos são ou não europeus é bizantina; o importante é que os turcos querem ser europeus”.

Leia também Orhan Pamuk, os curdos e os arménios.

:: enviado por JAM :: 10/13/2006 11:23:00 da manhã :: início ::
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