sábado, julho 28, 2007
in M!C - Movimento de Intervenção e Cidadania
M!C - Movimento de Intervenção e Cidadania: "Já não há dons Sebastião...[São José Almeida, Jornalista, A Semana Política, Público.pt, 28-07-2007]
A direita portuguesa está até a viver o momento de maior expansão desde o 25 de Abril. Nunca, nos últimos 30 anos, a direita foi tão forte, tão determinante e teve tanta influência em Portugal. Nalguns domínios, como o político, a direita em expansão não é em muitos aspectos conservadora, reaccionária, ultramontana. Advoga a mudança, a ruptura, a revolução, pois só isso permite desconstruir o Estado social.
Enquanto projecto em realização e enquanto mentalidade, enquanto doutrina, enquanto pensamento do mainstream, a direita e a defesa de valores de direita, que retiram do centro e do objectivo último da acção política as pessoas e o seu bem-estar e a dimensão igualitária da gestão democrática da sociedade, dominam.
O projecto político da nova direita europeia e ocidental, da direita neoliberal, está em crescendo e em expansão em Portugal, ao ponto de estar, pela primeira vez, a ser concretizado ao nível da superestrutura, através de adopção de legislação e do avanço de reformas que mais não são do que a desconstrução do Estado social. E são defendidas por políticos que, à partida, no espectro partidário são ainda colocados à esquerda pela opinião pública.
Assim, o programa político da direita está a ser posto em prática pela esquerda, ou aquilo que foi até hoje o mais central dos partidos da esquerda parlamentar e que de esquerda parece manter apenas o lugar no hemiciclo. É, aliás, paradoxalmente o PS o partido a impor e a concretizar as medidas que trazem consigo custos sociais elevadíssimos e que a direita, quando foi poder, não teve condições nem ousadia para pôr em prática.
E é precisamente porque os partidos de direita parlamentar, ao estarem no Governo, não tiveram condições para levar a cabo o seu programa político natural, que o Governo do PS, onde a direita do partido domina, acabou por o concretizar, roubando o programa e o ideá-rio ao PSD e ao CDS-PP e deixando estes dois partidos descalços."