BRITEIROS: Afinal defendemos o quê ou a “liberdade de expressão mas ...” <$BlogRSDUrl$>








domingo, fevereiro 05, 2006

Afinal defendemos o quê ou a “liberdade de expressão mas ...”

Um pouco por todo o lado, jornais têm vindo a publicar os desenhos da discórdia muçulmana (o Expresso também os publicava ontem e o Publico creio que também). Só posso aplaudir. Não é de joelhos perante a tirania da estupidez que o Mundo será um lugar melhor.
Ao lado desta manifestação de coragem – sim, porque é de uma enorme coragem, hoje em dia, publicar o que quer que seja sobre o mundo árabe, os muçulmanos ou o islão que não seja do agrado dos mesmos. Temos a escolha entre o esfaqueamento, o balázio, a bomba ou o massacre por turbas ululantes – ao lado desta coragem, dizia eu, os nossos representantes eleitos falam de “liberdade de expressão mas ...” e é este “mas” que me incomoda.
Vivemos numa sociedade baseada em valores (se eles são sempre respeitados é outra discussão). Um desses valores é a liberdade de expressão. Sem limites? - Claro que não. Com os limites impostos pelas leis votadas em Parlamentos democraticamente eleitos. Que eu saiba, em nenhum país ocidental são proibidos desenhos sobre Maomé, ou Deus, ou o Papa. Aliás, nem poderia ser de outra maneira porque, se cada vez que alguém, algum grupo ou alguma população se sentisse melindrada pelo que é publicado, não se publicava absolutamente nada.
Seria talvez a altura de explicar ao mundo árabe, em geral, e aos fundamentalistas, em particular, três princípios básicos da maneira como gostamos de viver: a) acreditamos na liberdade de imprensa e que um jornal pode não ter nada que ver com o respectivo Governo; b) preferimos o risco de ferir susceptibilidades ao absurdo da censura; c) defendemos firmemente o direito à opinião, mesmo que esta nos desagrade.
No dia em que nos esquecermos que há valores dos quais não podemos abdicar, quaisquer que sejam as consequências, mais vale entregar o poder a um tirano qualquer. Somos capazes de correr menos riscos e de viver mais tempo, mas seremos, certamente, mais infelizes.


PS: A ironia disto tudo é que os países mais atingidos pela fúria vingativa dos ditadores do pensamento são dos que mais se têm esforçado pela Paz no médio oriente. Ou será precisamente por causa disso que são atacados?

:: enviado por U18 Team :: 2/05/2006 09:51:00 da tarde :: início ::
3 comentário(s):
  • Respeito, bom gosto e bom senso nunca são demais...

    De Anonymous Anónimo, em fevereiro 05, 2006 10:40 da tarde  
  • Porque se trata de uma síntese bastante inteligente e porque inteligência é o que de mais precioso se necessita para apaziguar esta contenda, gostaria de reproduzir aqui o mais recente texto da Constança Cunha e Sá, n’O Espectro, com a devida vénia.

    O MUNDO NÃO É PERFEITO

    Lamento, mas esta não é uma questão de gosto. O valor ou a oportunidade dos cartoons publicados no Jyllands-Posten, o já famoso jornal dinamarquês, não são para aqui chamados. Nem me parece razoável passar-se um atestado de ingenuidade a quem supostamente não reconhece o carácter gratuito e provocador dos ditos cartoons. Pessoalmente acho-os deploráveis, como acho deploráveis muitas das manifestações anti-religiosas que por aí pululam. Desagrada-me a forma gratuita como, por vezes, é ridicularizada a fé e ainda me desagrada mais a forma como isso, entre nós, se banalizou. Mas entre o meu legítimo desagrado e a ilegítima censura sobre o que me desagrada, não tenho dúvidas: prefiro o meu legítimo desagrado. Defender o direito de publicação de uma dúzia de cartoons sobre Maomé não me obriga a defender o seu conteúdo e muito menos a concordar com os objectivos explícitos (ou não explícitos) dos seus autores: obriga-me apenas a defender uma coisa tão simples como a liberdade de expressão. Se a liberdade de expressão se mantivesse sempre nos limites do "aceitável", como alguns pretendem, não precisaria de ser defendida. São precisamente os excessos que a põem à prova. E são quase sempre esses excessos que nos parecem deploráveis. O mundo não é perfeito.

    De Blogger JAM, em fevereiro 06, 2006 11:27 da manhã  
  • É verdade, defendemos a liberdade de expressão mas, nestas coisa, o árabes e o Bush é que mandam.

    De Blogger Paulo Ribeiro, em fevereiro 06, 2006 10:03 da tarde  
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