sexta-feira, novembro 17, 2006
Baptista Bastos verdadeiramente no seu melhor
O génio de José Sócrates está à vista. É um magistral actor, de gesto cuidadosamente estudado, registo de voz alteado, consoante a métrica da locução; habilíssimo leitor do teleponto, por vezes helénico, outras romântico, ocasionalmente neorealista, distribuindo miúdas noções de enunciados sociais, tudo envolvido em fatos de corte requintado, camisa a condizer, gravata “à propos”. Possui, de Mário Soares, a repentina cólera; de Guterres, a logorreia; de Constâncio, a lenta conversão do escudo em euro. De Sampaio, nada; de Ferro, ainda menos. Sócrates é produto de vários equívocos e de múltiplas ambiguidades. Afinal, a imagem devolvida do Partido Socialista ― desde a religião ao agnosticismo, da genuflexão ao avental maçónico. Socialismo, propriamente dito ― nem o perfume ritual.Por outro lado, o Chefe do Estado acarinha Sócrates com suavidade, o qual, emocionadíssimo, envia-lhe, periodicamente, vários estudos acerca da índole mansa e resignada do português. Esta sociedade elegante entre Cavaco e Sócrates eleva-se pela virtude e simboliza-se pela doçura do recato.
[in Jornal de Negócios]
:: enviado por JAM :: 11/17/2006 09:22:00 da tarde :: início ::