domingo, abril 30, 2006
A escolha do Hamas
O Presidente da OLP e da Autoridade Palestiniana procura desassombrar a crise propondo a reabertura de negociações, em nome da OLP, signatária dos Acordos de Oslo e de submeter os resultados a referendo. Foi isso que veio anunciar na sua deslocação à Noruega e a França.Privado das ajudas internacionais, à beira da bancarrota e totalmente isolado, mesmo pelo mundo árabe, o governo islamita do Hamas procura, por seu lado, sair do impasse deixando entender que aceitará um compromisso, negociado quer pela OLP quer pelos países árabes, que lhe permita escapar à humilhação de uma inversão de marcha. É inevitável, no contexto actual, abrir um canal de negociações com Israel, sem ter necessariamente que o reconhecer.
Três saídas são possíveis. A primeira consiste em juntar-se à iniciativa de paz, pela qual o conjunto dos países árabes propuseram, em 2002, a paz a Israel, em troca da formação de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 1967. A segunda seria o reconhecimento das resoluções da ONU em relação ao conflito israelo-palestiniano, todas elas baseadas na evacuação dos territórios ocupados e no reconhecimento mútuo. A terceira consistiria na adesão do Hamas ao programa da OLP, da qual não faz parte, que defende a coexistência dos dois Estados dentro das fronteiras de 1967.
A chantagem de Washington, seguida de perto pela União Europeia, tem como objectivo dar a volta ao governo do Hamas que, mesmo não tendo dado até aqui provas de grande competência, foi escolhido pela população, em consequência de eleições arduamente exigidas por Washington.
A ideia de privar agora esse mesmo governo das suas responsabilidades tem, para os dirigentes americanos, a vantagem de poder eliminar praticamente o papel do Estado palestiniano. Mas, nesse cenário, à população palestiniana, resta-lhe a chantagem de ter que optar entre a fome e a sua escolha eleitoral. Alguém imagina os americanos a terem que escolher entre a fome e George W. Bush?