sábado, dezembro 31, 2005
O ano de 2005
2005 foi um ano rico em ensinamentos sobre assuntos estratégicos: as desordens potenciais no Extremo-Oriente; duas crises nucleares no Irão e na Coreia do Norte, o enfraquecimento dos instrumentos de regulação internacional, com o falhanço da cimeira das Nações Unidas, que poderá ser o prenúncio do regresso da Sociedade das Nações e da sua impotência; um novo ataque terrorista em território europeu, usando pela primeira vez atentados suicidas. Na Europa que continua a ter a tendência para se considerar protegida. Na Europa em 2005 vítima da sua imensa letargia, misto de avaria institucional e de estreiteza da sua visão estratégica.
O ano de 2005 assistiu ao desenvolvimento de duas crises nucleares. No caso coreano, sinais contraditórios surgiram no início e nos finais do ano. Às declarações de Pyongyang sobre a existência de um arsenal nuclear e da retoma dos testes balísticos, sucedeu-se o texto dos seis países empenhados nas negociações, que pareceu indicar uma renúncia, mas que não parece ter mostrado a solidez suficiente para nos permitir dormir descansados.
Já o Irão, tem a ambição de se tornar a primeira potência do Médio Oriente, e a bomba serve, no seu entender, esse objectivo. As negociações com os europeus foram interrompidas pela segunda vez em 2005, com a decisão iraniana de retomar as suas actividades de conversão de urânio. A Europa agiu mal ao decidir não pôr em prática a ameaça tantas vezes repetida de transmitir o caso ao Conselho de Segurança da ONU. Ao não o fazer, permitiu o aumento da postura provocatória de Teerão.
Em 2005, a Rússia tornou-se ainda mais inquietante, não só para o mundo, mas também para os próprios russos, que se perguntam quem é que, ao certo, toma as grandes decisões em Moscovo e para onde vai o dinheiro em geral e o do petróleo em particular. A Rússia tem-se fechado e está cada vez mais “selvagem”. A esse “enselvajamento” não será estranha a experiência traumática feita pela jovem geração russa na Tchechénia, nos últimos anos. Uma vez regressados a casa, os soldados não sabem fazer mais nada a não ser roubar, pilhar ou matar. Tal como o nazismo foi a catástrofe salvadora da Alemanha, também a da Rússia terá que passar pelo fim dos seus ideais imperialistas.
Mas, se o fim dos sonhos de império é coisa que não parece estar à vista lá para os lados de Moscovo, também não estiveram à vista em 2005, nem o fim dos sonhos de hegemonia americanos, nem o fim dos sonhos de “terra prometida” israelitas.
Soljenitsyne dizia: “Se a lição global do século XX não servir de vacina, o imenso furacão poderá renovar-se na sua totalidade”. Essa lição é, em primeiro lugar, a possibilidade de que o imenso furacão se renove. Os sinais de alarme estão acesos. Mas, como o futuro não se escreve com antecedência, o curso da História poderá sempre ser inflectido. Nada nos obriga a continuarmos a alimentar o lado destruidor da psicologia humana.
Um feliz ano de 2006 para todos!