terça-feira, outubro 31, 2006
O Estado e a reivindicação
Há dias, a revista “Pública” publicou uma entrevista com o coordenador da Comissão de Trabalhadores da AutoEuropa, António Chora. Duas coisas nessa entrevista chamaram mais a minha atenção:1ª ― “(...) outra questão que já está gasta, mas que também não está resolvida, é a da colocação de uma placa a indicar o caminho para a fábrica à saída da ponte Vasco da Gama: Na auto-estrada do Sul foram precisos 7 anos para colocar essa placa. Na A-12, os motoristas continuam a enganar-se e têm de ir a Setúbal e entrar na auto-estrada outra vez para cá chegarem. Isto é dramático, não só pelos custos elevadíssimos que tem, como pela mensagem que é transmitida aos investidores (...)”;
2ª ― “(...) Não conheço nenhum dirigente sindical a tempo inteiro que esteja desempregado, e assim é fácil fazer sindicalismo e dizer não a tudo (...)”.
Quanto à questão da placa, que dizer nestes tempos que o governo diz serem de simplex? Que o Estado continua uma máquina pesada e lenta, que há sempre qualquer coisinha que não lhe permite cumprir as suas funções, mesmo quando está em causa uma empresa tão falada, tão no centro das atenções, como tem sido a AutoEuropa?
Quanto ao sindicalismo, qualquer um que seja ou tenha sido sindicalizado neste país pode confirmar a sensação que já teve montes de vezes de que as direcções sindicais só se preocupam com os seus sócios nas grandes ocasiões, ou seja, quando precisam deles, designadamente em vésperas de eleições sindicais ou em vésperas das “grandes lutas” por aumentar os salários em vinte e cinco tostões e justificarem assim a sua (deles, dirigentes) existência. Na verdade, existem quadros sindicais mais agarrados ao seu lugar no sindicato do que o Jardim ao governo regional da Madeira. É uma espécie de “aristocracia proletária”, que já nem se lembra de como é o trabalho fora do sindicato, que vai vivendo a sua vidinha de todos os dias sem o patrão ou o chefe quotidianos e que, habitualmente, quando tem de pôr o nariz fora do sindicato e agitar umas bandeiras, tem pouca ou nenhuma imaginação e limita-se a pedir a esmola do costume (dinheiro, sempre dinheiro, ou qualquer coisa que a ele se reduza)... e em paz.